quinta-feira, 3 de março de 2011

Poligamia: boa para os homens, ruim para as mulheres



Em 1862, a decisão do Congresso Americano em tornar a poligamia ilegal naquele país, transformou a vida dos mórmons. Os mórmons são um grupo que faz parte de uma religião cristã conhecida como a Igreja de Jesus dos Santos dos Últimos Dias. Eles são uma comunidade bastante fechada que valoriza a família e que geralmente se casam apenas entre outros membros religiosos. Antes da lei, era comum aos homens mórmons terem várias esposas. Em 1890, no entanto, a Igreja fez uma declaração acabando com a prática, inclusive no estado de Utah, onde vive um número grande de mórmons. Algumas décadas depois, menos de 1% dos mórmons deste estado tinham mais de uma esposa.

Cientistas da Indiana University Bloomington decidiram estudar como a proibição da poligamia mudou a vida dos homens e mulheres desta comunidade. O autor do estudo, Michael Wade, escolheu os Mórmons porque eles seriam “uma população singular que sofreu uma mudança compulsória em seu estilo de união, da poligamia para a monogamia. E melhor ainda, nada mais mudou. O estilo de vida continuou o mesmo, eles não mudaram seus hábitos alimentares ou onde vivem”. Eles decidiram, então, estudar como a mudança afetou o as pressões evolucionárias nos homens e mulheres mórmons na hora da seleção sexual, onde existe competição entre cada gênero para conseguir um companheiro ou companheira.

Para medir a seleção, eles buscaram os registros genealógicos de cerca de 150 mil homens e mulheres que nasceram entre 1830 e 1864 e quase 635 mil descendentes da base de dados populacionais de Utah. Eles utilizaram, também, dados do Censo do Governo dos EUA para completar as estimativas do número de pessoas que não tiveram filhos. Os cientistas consideraram os “monógamos em série”, pessoas que se casaram várias vezes, ou as pessoas que ficaram viúvas e se casaram de novo, mas nunca estiveram envolvidos em um relacionamento poligâmico.

Segundo os pesquisadores, a poligamia exacerbaria a competição para os homens, afinal, para cada homem com cinco esposas, existiriam quatro homens sem esposa nenhuma. Este sistema resultaria em alguns homens com vários filhos e outros sem nenhum. Não foi nenhuma surpresa descobrir que os polígamos tinham mais filhos. A cada nova esposa, o homem poderia ter mais seis herdeiros. Com as mulheres, acontecia o contrário: a cada esposa adicional, elas deixariam de produzir um filho.

Os cientistas descobriram que quando a poligamia ficou ilegal, a diferença entre o número de filhos dos homens que sempre foram polígamos e daqueles que nunca tiveram uma esposa caiu impressionantes 58%.
Em relação a competição entre os homens na hora da seleção da esposa, a variação na diferença entre os homens que conseguem se reproduzir com sucesso não necessariamente significa uma evolução na seleção. De acordo com o professor de antropologia da Universidade de Utah, Henry Harpending, “a pesquisa é impressionante”, mas “os homens que antes tinham três mulheres poderiam tê-las simplesmente porque tinham algo melhor que os outros homens. Se este é o motivo, então houve uma diferença no banco de genes. Se a escolha for aleatória – meu tio me ajudou a comprar uma fazenda e eu consegui três esposas – então, isto não muda nada”.

As mulheres foram beneficiadas com a monogamia. “Se você só tem um parceiro o número máximo de descendentes para o homem será o mesmo que para as mulheres”, disse Wade. Assim, o relacionamento entre gêneros ficou mais equilibrado. “A variação de parceiros para um homem, com a monogamia, passa a ser quase igual para as mulheres”.

Em relação ao número de filhos, que diminuiria a cada nova esposa que chegasse à família, Harpending explica que o motivo poderia ser a idade das mulheres. As recém-casadas geralmente eram mais novas, já as que se casaram antes seriam mais velhas e menos férteis. Outra explicação seria que algumas viúvas, antes de se casar de novo, teriam perdido um período de sua fertilidade.

Em resumo, a poligamia trazia mais benefícios para os homens, mas só para os que já tinham várias esposas. A monogamia diminuiu as diferenças reprodutivas entre aqueles que, antes, não tinham uma esposa sequer. A competição para arrumar um parceiro ou parceira, que antes era menos acirrada para os homens, acabou se igualando. Os homens tiveram que começar a correr atrás! Para completar, o número médio de filhos que um homem poderia ter era alto quando podia ter múltiplas esposas. Com as mulheres era o oposto. Os cientistas preferiram definir se a poligamia era boa ou ruim, mas ficou claro que, se era boa, era só para os homens casados.

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Facebook Favorites

 
Copyright 2011 @ Tecnology News. All rights reserved Blogger
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...